Dos mares de lá pra cá

Pão e circo para os fãs incondicionais do casal Camelo e Mallu. É o que foi servido em duas boas partilhas debaixo da lona do Circo Voador, na Lapa, Rio de Janeiro. A casa, como é sabido, não é a mesma desde os idos de 1982, quando foi inaugurada no Arpoador, em Ipanema, mas a dupla também não. Aos desembarcar no Brasil, depois de uma temporada de um ano em Lisboa, eles trouxeram o baterista português Fred Ferreira e lançaram a Banda do Mar: um projeto que soa temático, com músicas ensolaradas que falam do oceano e do amor.

Depois de um ano, as intenções foram revistas e parecem claras. Aquele Marcelo Camelo em muitos momentos sisudo à frente da banda Los Hermanos voltou revigorado de Lisboa. A vida de casal ao lado de Mallu Magalhães quiçá tenha provocado a transformação do semblante. E a recém-criada Banda do Mar assumiu os reflexos do momento de uma nova parceria, a com o baterista Fred Ferreira. O álbum ficou “mais comunicativo e ensolarado”, como ele mesmo define.
Como se vê, o período fora do país não foi apenas sabático. Camelo, além de dividir as 12 composições do disco com Mallu, continuou escrevendo para grandes nomes da música brasileira como a cantora Gal Costa, que está prestes a lançar mais um disco de inéditas, aumentando a discografia. Ele também largou o violão e segura firme na guitarra para a nova turnê.
Fred não fica atrás, impõe uma batida constante e forte. Nas primeiras faixas divulgadas na internet – e que alcançaram em uma semana o topo do iTunes – parecia ter ficado pra Mallu Magalhães a responsabilidade de defender as faixas mais alegres e dançantes. Mas, ao vivo, a história é outra: todos se divertem, arriscam paços e cantam quase que sorrindo. Não há nada de dentes trincados e muito de unidade, inclusive no uso da mesma camiseta pelos três.
Mallu cresceu, mas ainda é uma jovem processa ao lado dos dois marmanjos. Voltou com cabelos aloirados e não liga sequer se deixa de cantar porque o plug do seu instrumento soltou. Ela se diverte, ri e deixa o público soltar a voz. Até vira o microfone pra plateia, fazendo valer a brincadeira.
Aclamado pelo público e pela crítica, Marcelo despista ao dizer que reconhece que não pode agradar a todos, mas ninguém esconde a satisfação com os primeiros shows em solo tupiniquim. “Temos shows marcados por todo o país”, comemora Mallu.
“Pra mim o mar é algo que representa um certo mistério, ele pode estar calmo em um momento e em outro ficar agitado”.

Como foi pra você e o Marcello viverem em Portugal? Encontraram uma segunda casa?
Mallu Magalhães - Já vivemos uma vida de lisbonenses, a gente já amava Portugal e está sendo incrível morar em Lisboa.
Fred e Marcelo já tinha trabalhado juntos. Como foi pra você entrar no projeto?
Mallu - A Banda do Mar sempre foi nós três, a gente já tinha a ideia e a vontade de fazer algo juntos. Depois que mudamos pra Portugal, isso aconteceu mais rápido.
A Banda do Mar é um mergulho de fôlego ou um projeto temporário como os que surgem em varias épocas, a exemplo da banda Little Joy (formada por Rodrigo Amarante, do Los Hermanos, com Fabrizio Moretti e Binki Shapiro) e dos Tribalistas?
Mallu - A banda nasceu pela vontade de três amigos em fazer algo junto. A gente combinou de fazer um bom disco e uma turnê legal, depois a gente vê o que acontece...
O Mar tem sentidos diferentes para muitas pessoas. O que representa pra vocês?
Mallu - Foi exatamente por esse motivo que escolhemos o nome, adoramos que o mar tem essa pluralidade de sentido para as pessoas. Pra mim o mar é algo que representa um certo mistério, ele pode estar calmo em um momento e em outro ficar agitado.
O trio pretende colocar a casa nas costas e percorrer o Brasil com o trabalho? Pra onde vocês devem remar depois?
Mallu - Pra 2015 a ideia é levar a turnê pra Portugal e outros países da Europa.

Texto: Cristiano Félix
Fotos: Marcelo Camelo/ divulgação
*Reportagem publicada originalmente na Manhattan Magazine em Dez.2014